domingo, 15 de fevereiro de 2009

Teu rosto procuro


O TEU ROSTO, SENHOR?

Senhor, se não estás aqui, se estás ausente, onde te procurarei? Mas se estás em toda a parte, porque te não encontro aqui presente? É certo que habitas numa luz inacessível. Mas onde está essa luz inacessível? Quem me conduzirá e introduzirá nessa luz, para nela te contemplar? Com que sinais, com que aspecto te devo procurar? Nunca te vi, Senhor meu Deus; não conheço o teu rosto.” in Proslógion SANTO ANSELMO

Desejosa de voltar para a minha comunidade, num fim de tarde de inverno, escuro e chuvoso, bem enrolada em casacos, metendo um policial e um chocolate no saco, dispus-me a enfrentar uma espera no aeroporto e, depois, a viagem.
No avião, abri o policial e preparei-me para nem dar pela passagem das duas horas e tal, que me separavam de casa.
Porém, ao transpor a cerrada camada das nuvens, um espectáculo deslumbrante abriu-se aos meus olhos: o sol, a pôr-se abaixo do nível das nuvens, furava de onde em onde, formando “lagos” de tons de fogo… o próprio céu adquiria uns matizes espantosos, que iam de um dourado clarinho até a um azul profundo, quase negro…
Pus de lado o enredo policial, olhando absorta para tanta beleza!

“Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a lua e as estrelas que lá colocaste:
que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para dele te ocupares? ” (Salmo 8,4-5)

Que sou eu Senhor para te ocupares de mim?
Eu, que “á falta de melhor” me proponho “matar” o meu tempo com um policial? Quem sou eu para me dares olhos, e capacidade de gozar interiormente o espectáculo, que abres diante de mim?
É espantoso que de tanto estar habituada a ser tratada, por Deus, como filha, a saber que verdadeiramente o sou, me esqueça com tanta frequência de como isto é absolutamente espantoso e fora de toda a lógica!
A Terra é uma areazinha no universo, e eu própria uma coisica de nada, nessa mesma areiazinha; e, contudo, Deus - o mesmo que criou a grandiosidade do céu, a luz, as estrelas – olha com um amor único e irrepetível para cada uma destas coisicas que se passeiam pela areiazinha … a cada uma conhece pelo seu nome!!!! …E cá vou eu, andando esquecida!

Meu Deus, por vezes, sinto como se estivesses perdido na distância! – tão longe como se fosses um Deus habitando um céu remoto, de onde lanças olhares compadecidos cá para baixo…e, então, a minha vida vai correndo numa mornice afadigada: rezar(?)-trabalhar – comer - dormir.
Depois, de repente, porém, despertas-me, e surge uma vontade enorme de estar em Ti, eu toda, desligando-me das minhas manias e das minhas coisinhas, de desaparecer em Ti e seres Tu tudo o que resta, um tudo que é nada, (ou um nada que é tudo - não sei!) lá onde as palavras não chegam, onde as ideias deixam de ser ideias… mas sozinha não consigo!
És tu que pões este desejo imenso no coração dos teus filhos; portanto, Senhor, com Santo Anselmo, peço-te: “Ensina-me a procurar-te, mostra-me o teu rosto; porque não posso procurar-te se não mo ensinas. Não posso encontrar-te se não te mostras. Desejando te procurarei, e procurando te desejarei; amando te encontrarei, e encontrando te amarei!”