sábado, 6 de março de 2010

gosto de gostar

Boa noite meu Deus!
Disseram-me hoje que gosto de muitas coisas ... e é verdade, gosto mesmo de muitíssimas coisas: gente, natureza, musica, fotografia, conversas, passear ou ficar sossegada no meu canto.... enfim acho que do que gosto mesmo é de viver a Vida.

Há um sem numero de coisas e loisas que me dão um imenso gozo. um cafezinho gostoso, um encontro inesperado (ou esperado) com um amigo, uma amena cavaqueira, um nascer do sol, o voar dos pássaros...e...e..

Pois, eu sei que esta coisa de "gostar de gostar" e desejar gostar da gente, das coisas, das ocasiões, é um dom, um magnifico presentão, que veio directamente das Tuas mãos! Muito obrigada!!! ah! muito obrigada MESMO!
Doí-me não ser capaz de transmitir ao mundo o júbilo que é apreciar estas coisinhas que fazem o nosso dia a dia!

Uma canção brasileira (seria do Vinicius?) falava em "viver cada segundo como um nunca mais"... Acho que esta é uma boa formula para viver uma bela vida: Apanhar cada segundinho que nos cai no regaço do coração e vivê-lo em plenitude!
... cada ínfimo momentinho que vem direitinho das Tuas mãos...
Bem sei que, a maior parte das vezes, não os acolho como um presente precioso e irrepetível... quantas vezes em vez de presente procuro neles os restos requentados de um passado ou as pré-ocupações de um hipotético futuro...
Muitos, deixo-os cair pelas minhas mãos furadas por tantos afazeres sem sentido... outros chegam ao meu coração irreconhecíveis por tantas coisas com que os fui atafulhando... outros vejo-os com tantas dores que nem me lembro de procurar o brilho da Ressurreição... sim que a dor também pode ser VIDA!
Mas sei bem, (oh se sei!!!...) que viver um segundinho, um micro momento, na plenitude do acolhimento de tudo o que nele possa surgir, pode transformar, transforma mesmo, a minha vidita sem graça, numa VIDA verdadeiramente fascinante e que vale a pena ser vivida! Obrigada meu Deus!
Peço-Te perdão por todos os momentos que vivi sem reparar! OH como sinto viver tão distraída!
Mas muito obrigada meu Deus, pois mesmos sem eu dar conta, sem eu fazer nada por isso, continuas a derramar na minha vida milhares de momentos de um Amor único e fabuloso!
Olha o que Te peço hoje, é que dês a toda a gente uns segundinhos em que (apesar dos nossos corações cheios de problemas e das nossa cabeças a inventar ainda mais) nos abanes com força para que - mesmo sem uma consciência clara de como e porquê - saibamos que o "agora" é um momento irrepetível em que Tu estás a derramar o Teu imenso Amor na minha vida, na vida dele, na vida dela, na vida de cada um de nós... e que o Amor imenso que tens por cada um também é único e irrepetível!
Derrama a Tua benção sobre o Universo! Possamos - eu e todo o mundo - repousar na palma da Tua mão, para que amanhã nos levantemos cheios de força e alegria para celebrar o nascer de mais um dia da história da Salvação!
Boa noite Senhor! 

terça-feira, 13 de outubro de 2009



Nesta luz de outono, as Laudes começam, quando
- ainda antes de entrar na Capela -
vejo o nascer de um dia, novinho em folha,
que chega directamente das mãos de Deus para o meu coração!

Possamos nós receber
todos os segundos
como bocadinhos de eternidade
que Ele derrama nas nossas vidas
Posted by Picasa

terça-feira, 28 de abril de 2009

vim para o mosteiro


Creio, que para a maior parte da gente o facto de eu me meter num mosteiro “enfiando-me” dentro das mesmas 4 paredes para o resto da minha vida, e ainda para mais andar vestida desta maneira exótica, é o sinal rematado e acabado de que a minha cabeça não funciona bem… - ou seja - não se rege pelos parâmetros habitualmente considerados “normais” e desejáveis: estudar, ter um emprego, de preferência um bom emprego com futuro garantido e bons ordenados, comprar casa, um bom carro, fazendo uma carreira profissional brilhante ao lado de uma família que se foi construindo!

E sinceramente penso que é perfeitamente compreensível que achem que tenho alguma panca… pois quando a ideia de uma vida de maior recolhimento surgiu na minha cabeça, também eu achei que estava maluca!

Mas vamos por partes:

Sou engª civil, e até aos 37 anos e alguns meses tinha uma vida absolutamente normal:

Formei-me em Coimbra, e durante 1 ano por lá fiquei como assistente estagiária na universidade (Álgebra linear e geometria Analítica, e depois desenho de construção civil) o que troquei por um lugar de engenheira no Porto … e já nessa altura houve gente que achou que eu era tola quando deixei uma carreira docente para me meter na vida da construção civil ainda para mais fora de casa e a ganhar um bocadito menos. Não liguei peva a essas bocas: para mim a carreira docente era uma chatice – parada, sem acção …. ficar por ali a dedicar-me a trabalhos teóricos sem mexer na massa… …. não dava luta Até achava uma certa piada às aulas mas ponto final.

Vim então para o Porto para uma das maiores empresas de construção portuguesas… mudando alguns anos depois para outra…

A minha vida também mudou bastante! Do sossego das aulas, horários folgados com tempo para tudo, passei para o mundo da construção civil: um mundo onde se trabalha montanhas de horas, com bastante stress, um mundo que por vezes é bastante “sujo”.

Mas um mundo fascinante! Trabalhei quase sempre nos orçamentos: o descobrir, inventar maneiras de reduzir os custos, o descobrir maneiras de se dar a resposta certa no momento certo, o perceber como se faz o quê e porquê… o trabalhar sempre debaixo da pressão de prazos… o descobrir o prazer de trabalhar em equipa… a alegria quando o nosso orçamento ganhava um concurso a muitas das vezes entre 20 ou mais empresas … as decepções vividas juntos se um orçamento que nos tinha tirado noites e noites era preterido por o de uma outra empresa …. Os jantares e almoços de colegas, alegres e divertidos que acabavam em discussões acaloradíssimas de questões mais ou menos ligados ao nosso mundo… jantares esses em que não raro era a única mulher….

Durante este tempo descobri a CVX – comunidades de vida cristã – um movimento de espiritualidade inaciana.

Um tipo de gente no seu geral bastante diferente… mas da mesma maneira que com os meus colegas pretendíamos ir ao fundo das questões, tentando compreender os comos e os porquês no nosso mundo de modo a que tudo se encaixasse, na CVX, queríamos ir ao fundo da questão essencial: como viver de uma forma cristã num mundo em que tantas vezes parece ser tão difícil viver de uma forma simplesmente recta e honesta…

Na minha CVX éramos todos formados, médicos, professores arquitectos, gestores… A ideia de base era ajudarmo-nos a ir descobrindo nas nossas vidas como viver aquilo que Deus nos pedia em cada dia, num mundo com bastantes tendências para a desumanização… ajudarmo-nos a discernir os sinais de Deus e da Sua vontade nas nossas vidas, como actuar em situações concretas…

Devo imenso à CVX: foi aí que descobri a importância de viver a fé de uma maneira autêntica e não dissociada da vida… Ajudou-me a olhar para a coerência de vida como uma coisa vital – viver como se pensa… olhar para a minha vida como um todo, com uma linha que leva a algum lado.

E a “culpa” de eu aqui estar hoje será da CVX:

Já por lá andava há alguns anos, quando se começou a pensar que em Portugal a exemplo de outros países se deveria começar a fazer um compromisso público com a CVX… quando se falou nisso eu numa boa, sem problema de espécie alguma disse que por mim até não me importava… a CVX fazia parte da minha vida, a espiritualidade inaciana era o que eu vivia… qual era o problema?

E assim em Novembro de 1994 num encontro nacional da CVX lá fui eu com mais uma ½ dúzia de gente fazer o compromisso com a CVX… assim o pensava!

Só que enganei-me! E descobri que com quem eu me estava a comprometer era com Jesus!!!

Ao dizer “TOMAI, SENHOR, E RECEBEI Toda a minha liberdade, a minha memória, a minha inteligência e toda a minha vontade.

Tudo o que tenho e tudo o que possuo Vós mo destes, a Vós, Senhor, o restituo.

Tudo é Vosso. Disponde de tudo segundo a vossa inteira vontade.

Dai-me o Vosso amor e a Vossa graça, que isso me basta.

Estava a entregar a Deus tudo, conscientemente, dizia que tudo era dele, que ele dispusesse de tudo segundo a Sua inteira vontade…

E Ele aproveitou a deixa!

Mês e ½ depois estava eu a dizer a um senhor padre que me parecia que Deus me pedia para me dedicar a Ele de uma forma mais exclusiva, que sentia ?!?! que Ele me estava a pedir uma vida contemplativa… o senhor padre que me ajudasse a tirar isso da cabeça! Era uma coisa completamente impossível!!! Como é que EU me podia ir fechar dentro de uns muros a rezar! E a minha vida? Eu era uma pessoa mexida, que me dava bem no stress e na correria!

Se não estava maluca ao pensar nisso de certeza que iria ficar!!!! Ainda para mais só com mulheres!! Nem pensar! Por favor tire-me esta ideia da cabeça!!!!!!

Ele não me tirou a tal ideia da cabeça… até Fevereiro de 95 nunca tinha ouvido falar do mosteiro, nem sabia nada sobre S.Bento, de beneditinos tinha uma vaga ideia de que viviam no meio do monte e que faziam licores com várias ervas… e menos de 1 ano depois – no dia 1 de Novembro de 1995 entrei no mosteiro, onde espero ficar para o resto da vida… ainda hoje me espanto !!!

E em vez de um afunilamento na minha vida descobri um alargamento enorme de horizontes,

Em vez de um encerrar-me descobri uma liberdade fantástica

Em vez de uma vidinha que eu tinha tenho uma fantástica de uma Vida, com o V enormíssimo…

Há muitos anos chamava-se numa expressão foleiríssima ao namorado “o mais que tudo” acho que por muito foleiro que seja o termo, exprime uma realidade muito verdadeira e forte: se algo é mais do que o resto tudo, em relação a isso tudo o resto deixa de ter importância…

É realmente que a liberdade não é desligar-me de tudo, mas sim fazer uma opção por 1 só coisa e relativizar o resto!

E quando eu digo isto não é paleio para vender o meu peixe… sinto-me verdadeiramente muito mais livre agora que tenho que pedir licença para tudo, que não tenho dinheiro, etc, do que quando era Exma srª Eng, sem ter que dar satisfações a ninguém, com a minha casa e o meu carro, indo para onde queria e me apetecia… Quando descobri isso até eu me espantei! Mas contra fatos não há argumentos e a verdade é que realmente sinto uma liberdade enorme.

Quando se lhe dá o dedo, Deus leva tudo o que está agarrado, mas dá 100 vezes mais… e não há duvida de que vale bem a pena!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

UMA PREGUIÇA BEM ORIENTADA


UMA PREGUIÇA BEM ORIENTADA
SÓ AJUDA À CAMINHADA !!!

Em primeiro lugar esclareço que o que entendo por preguiça é a atitude de fundo de quem evita todo e qualquer esforço supérfluo.
Não me parece que deixar para logo qualquer coisa que deva ser feita agora seja uma questão de preguiça: isto não é senão protelar uma situação não evitando coisíssima nenhuma.
Por outro lado, o fazer um esforço maior agora para evitar um futuro acumular de esforços, já será um fruto dessa tal preguiça como atitude de fundo. Mas se eu evito um esforço agora e daí resulta mais canseira a longo prazo, isto não é preguiça e sim estupidez!
Posto isto:
Acho que este tipo de preguiça deve ser fomentado e encorajado, pois que tendo o ser humano uma energia limitada, não a deve desperdiçar com coisas das quais não se obtêm frutos ou em devaneios sem interesse, mas aplicá-la na obtenção daquilo que pretende da vida.
Assim o bom preguiçoso deve começar por eleger um objectivo principal e depois ordenar a sua vida nesse sentido como forma de poupar energia.
Será como escolher percurso de uma viagem: se o objectivo é ir a Braga mas gosto em ver lindas paisagens, saio de casa em direcção a Braga, podendo eventualmente escolher uma estrada que do ponto de vista paisagístico me agrade mais, mas o meu objectivo é Braga, e é lá que quero chegar a tempo… mas se vou de passeio em busca de lindas paisagens e me dá um certo jeito passar por Braga o caso será outro. No 1º caso oriento-me para Braga, tentando escolher uma estrada mais bonita… no 2º a paisagem é o mais importante, e o passar em Braga poderá ser um mero desvio da rota traçada…
O preguiçoso deve perguntar-se antes de mais: O que quero da vida?
Se sou cristã, o objectivo principal da minha vida supõe-se que seja o meu encontro com o Deus Trinitário, e sei perfeitamente que a maneira de o fazer é procurar sempre a Sua Vontade.
Quanto mais preguiçosa eu for menos coisas farei fora desta procura, pois será um gasto de energia inútil… posso ir escolhendo eventualmente a maneira de fazer essa busca, usando aquilo que me está mais a carácter…
Mas parece-me que é estúpido desgastarmo-nos com coisas sem interesse, que nos desviam deste caminho.
Da mesma maneira que a tendência natural é deixar para amanhã aquilo que poderia fazer hoje com menos esforço, também é natural fixarmo-nos em escolhas de caminhos, e de maneiras de fazer, que só atrapalham.
É natural preocuparmo-nos mais com as formas do que com o conteúdo. Preocupamo-nos tentando copiar um modelo de vida que temos no miolo como fantástico (ao qual com mais ou menos jogos de cintura vamos tentando ajeitar a nossa vida) em vez de irmos descobrindo cada dia como viver as circunstâncias concretas que se nos apresentam…
Claro que isto é uma estupidez rematada: posso gastar tanta energia, tempo e paciência em descobrir como é que eu vou entrar num modelo de vida determinado, e me vou encaixar naqueles moldes tidos como correctos (coisa que nunca conseguirei a 100%, tendo portanto 1001 desculpas para me desviar) que deixo passar a vida toda a meu lado, arranjo úlceras várias e dores de cabeça sem fim, e não saio do mesmo lugar : Preocupo-me com a maneira com os outros me vão olhar, com o que vão dizer etc.. arranjo uma fachada que me dá uma canseira manter.
Arranjo mexeriquices para me defender de possíveis ataques à identificação com a imagem que quero defender a todo o custo… se me dizem alguma coisa saio logo a campo armada até aos dentes porque “tenho que proteger o modelo que tanto trabalho me deu a construir”
Daí a pouco ponho as minhas seguranças todas na tal imagem que tenho que manter, tão cheia de medo de as perder se dou um passo fora, que já não tenho forças para me mexer do sítio – fico presa à imagem inventei.
A vida deixa de ser dinâmica para ser estática… e uma xxxxxxatice cansativa.
O verdadeiro preguiçoso sabe que Deus quer agir através dele, que Ele age efectivamente… então para quê tentar pegar nas rédeas e andar à roda à procura do caminho?
Não será muito mais fácil pôr-se simplesmente nas mãos de Deus, dispor-se a que Ele aja connosco e através de nós? “Muito ajuda quem não atrapalha”, diz o povo – não será melhor procurar simplesmente não atrapalhar a vinda do Reino?
Claro que o que eu defendo não é ficar deitado à espera que o reino chegue, mas sim em cada momento olhar à volta, e perguntar com isto que vejo à minha volta, o que queres Tu que eu faça? O que queres Tu fazer através de mim e comigo? Aceitar a Vontade de Deus para as nossas vidas, de uma forma activa, e o mais total possível…
Não me parece que seja linear não ficar a carpir as nossas misérias, mas embora seja muito agradável (senão por que o fazemos?) sentirmo-nos as pessoas mais infelizes do mundo, achando que nunca ninguém teve tanta razão para se sentir triste e infeliz como nós, isto é uma canseira, e ainda para mais uma canseira que só dá frutos podres!
Também outra grande tentação (contra a preguiça bem dirigida) é sentirmo-nos culpados de tudo o que acontece no mundo, infelicíssimos porque deveríamos ter feito mil coisas para mudar o rumo da humanidade, pondo-nos a esbracejar em mil direcções e batendo no peito com imensa compunção.
Mas acho que o que Deus me pede em primeiro lugar é que me converta a mim própria… o que exige um esforço menor, mas mais dirigido… e parece-me que o problema da humanidade é preferir desperdiçar energias com planos infindáveis de caças aos gambuzinos a gastar uma milésima parte dessa energia caçando a vareja real que lhe põe mil ovos no prato… que darão mil varejinhas para conspurcar mil pratos à volta…
Portanto: preguiçosos do mundo uni-vos e deixai de vos envolver em super activismos, mas perguntai sempre o que é que Deus vos pede hoje aqui e agora… o amanhã é uma pré-ocupação! rezai tentando unir a vossa à Sua vontade, e deixai-vos descansar na Sua Mão que é o que menos canseira dá!