terça-feira, 28 de abril de 2009

vim para o mosteiro


Creio, que para a maior parte da gente o facto de eu me meter num mosteiro “enfiando-me” dentro das mesmas 4 paredes para o resto da minha vida, e ainda para mais andar vestida desta maneira exótica, é o sinal rematado e acabado de que a minha cabeça não funciona bem… - ou seja - não se rege pelos parâmetros habitualmente considerados “normais” e desejáveis: estudar, ter um emprego, de preferência um bom emprego com futuro garantido e bons ordenados, comprar casa, um bom carro, fazendo uma carreira profissional brilhante ao lado de uma família que se foi construindo!

E sinceramente penso que é perfeitamente compreensível que achem que tenho alguma panca… pois quando a ideia de uma vida de maior recolhimento surgiu na minha cabeça, também eu achei que estava maluca!

Mas vamos por partes:

Sou engª civil, e até aos 37 anos e alguns meses tinha uma vida absolutamente normal:

Formei-me em Coimbra, e durante 1 ano por lá fiquei como assistente estagiária na universidade (Álgebra linear e geometria Analítica, e depois desenho de construção civil) o que troquei por um lugar de engenheira no Porto … e já nessa altura houve gente que achou que eu era tola quando deixei uma carreira docente para me meter na vida da construção civil ainda para mais fora de casa e a ganhar um bocadito menos. Não liguei peva a essas bocas: para mim a carreira docente era uma chatice – parada, sem acção …. ficar por ali a dedicar-me a trabalhos teóricos sem mexer na massa… …. não dava luta Até achava uma certa piada às aulas mas ponto final.

Vim então para o Porto para uma das maiores empresas de construção portuguesas… mudando alguns anos depois para outra…

A minha vida também mudou bastante! Do sossego das aulas, horários folgados com tempo para tudo, passei para o mundo da construção civil: um mundo onde se trabalha montanhas de horas, com bastante stress, um mundo que por vezes é bastante “sujo”.

Mas um mundo fascinante! Trabalhei quase sempre nos orçamentos: o descobrir, inventar maneiras de reduzir os custos, o descobrir maneiras de se dar a resposta certa no momento certo, o perceber como se faz o quê e porquê… o trabalhar sempre debaixo da pressão de prazos… o descobrir o prazer de trabalhar em equipa… a alegria quando o nosso orçamento ganhava um concurso a muitas das vezes entre 20 ou mais empresas … as decepções vividas juntos se um orçamento que nos tinha tirado noites e noites era preterido por o de uma outra empresa …. Os jantares e almoços de colegas, alegres e divertidos que acabavam em discussões acaloradíssimas de questões mais ou menos ligados ao nosso mundo… jantares esses em que não raro era a única mulher….

Durante este tempo descobri a CVX – comunidades de vida cristã – um movimento de espiritualidade inaciana.

Um tipo de gente no seu geral bastante diferente… mas da mesma maneira que com os meus colegas pretendíamos ir ao fundo das questões, tentando compreender os comos e os porquês no nosso mundo de modo a que tudo se encaixasse, na CVX, queríamos ir ao fundo da questão essencial: como viver de uma forma cristã num mundo em que tantas vezes parece ser tão difícil viver de uma forma simplesmente recta e honesta…

Na minha CVX éramos todos formados, médicos, professores arquitectos, gestores… A ideia de base era ajudarmo-nos a ir descobrindo nas nossas vidas como viver aquilo que Deus nos pedia em cada dia, num mundo com bastantes tendências para a desumanização… ajudarmo-nos a discernir os sinais de Deus e da Sua vontade nas nossas vidas, como actuar em situações concretas…

Devo imenso à CVX: foi aí que descobri a importância de viver a fé de uma maneira autêntica e não dissociada da vida… Ajudou-me a olhar para a coerência de vida como uma coisa vital – viver como se pensa… olhar para a minha vida como um todo, com uma linha que leva a algum lado.

E a “culpa” de eu aqui estar hoje será da CVX:

Já por lá andava há alguns anos, quando se começou a pensar que em Portugal a exemplo de outros países se deveria começar a fazer um compromisso público com a CVX… quando se falou nisso eu numa boa, sem problema de espécie alguma disse que por mim até não me importava… a CVX fazia parte da minha vida, a espiritualidade inaciana era o que eu vivia… qual era o problema?

E assim em Novembro de 1994 num encontro nacional da CVX lá fui eu com mais uma ½ dúzia de gente fazer o compromisso com a CVX… assim o pensava!

Só que enganei-me! E descobri que com quem eu me estava a comprometer era com Jesus!!!

Ao dizer “TOMAI, SENHOR, E RECEBEI Toda a minha liberdade, a minha memória, a minha inteligência e toda a minha vontade.

Tudo o que tenho e tudo o que possuo Vós mo destes, a Vós, Senhor, o restituo.

Tudo é Vosso. Disponde de tudo segundo a vossa inteira vontade.

Dai-me o Vosso amor e a Vossa graça, que isso me basta.

Estava a entregar a Deus tudo, conscientemente, dizia que tudo era dele, que ele dispusesse de tudo segundo a Sua inteira vontade…

E Ele aproveitou a deixa!

Mês e ½ depois estava eu a dizer a um senhor padre que me parecia que Deus me pedia para me dedicar a Ele de uma forma mais exclusiva, que sentia ?!?! que Ele me estava a pedir uma vida contemplativa… o senhor padre que me ajudasse a tirar isso da cabeça! Era uma coisa completamente impossível!!! Como é que EU me podia ir fechar dentro de uns muros a rezar! E a minha vida? Eu era uma pessoa mexida, que me dava bem no stress e na correria!

Se não estava maluca ao pensar nisso de certeza que iria ficar!!!! Ainda para mais só com mulheres!! Nem pensar! Por favor tire-me esta ideia da cabeça!!!!!!

Ele não me tirou a tal ideia da cabeça… até Fevereiro de 95 nunca tinha ouvido falar do mosteiro, nem sabia nada sobre S.Bento, de beneditinos tinha uma vaga ideia de que viviam no meio do monte e que faziam licores com várias ervas… e menos de 1 ano depois – no dia 1 de Novembro de 1995 entrei no mosteiro, onde espero ficar para o resto da vida… ainda hoje me espanto !!!

E em vez de um afunilamento na minha vida descobri um alargamento enorme de horizontes,

Em vez de um encerrar-me descobri uma liberdade fantástica

Em vez de uma vidinha que eu tinha tenho uma fantástica de uma Vida, com o V enormíssimo…

Há muitos anos chamava-se numa expressão foleiríssima ao namorado “o mais que tudo” acho que por muito foleiro que seja o termo, exprime uma realidade muito verdadeira e forte: se algo é mais do que o resto tudo, em relação a isso tudo o resto deixa de ter importância…

É realmente que a liberdade não é desligar-me de tudo, mas sim fazer uma opção por 1 só coisa e relativizar o resto!

E quando eu digo isto não é paleio para vender o meu peixe… sinto-me verdadeiramente muito mais livre agora que tenho que pedir licença para tudo, que não tenho dinheiro, etc, do que quando era Exma srª Eng, sem ter que dar satisfações a ninguém, com a minha casa e o meu carro, indo para onde queria e me apetecia… Quando descobri isso até eu me espantei! Mas contra fatos não há argumentos e a verdade é que realmente sinto uma liberdade enorme.

Quando se lhe dá o dedo, Deus leva tudo o que está agarrado, mas dá 100 vezes mais… e não há duvida de que vale bem a pena!

5 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito, acho que é por seres essa mulher corajosa que eu sempre gostei muito de ti (além de teres um nome super catita).
Beijito,
Carmo

Unknown disse...

Porque será que o comentário desapareceu?

Unknown disse...

confirmar

Unknown disse...

Quando vejo o seu sorriso, também acredito que vale a pena...
Obrigada pelo testemunho!

ir maria do carmo tovar osb disse...

... e só agora descobri como se abrem as mensagens!!!
Obrigada pelos comentários!!!